A atualização da NR 1 aborda o risco psicossocial como um fator a ser prevenido, gerenciado e tratado pelas empresas. A mudança não é exatamente uma novidade, o movimento de preocupação com a saúde mental já vinha sendo fomentado nos últimos anos, especialmente após a pandemia de Covid-19.
No artigo de hoje, vamos esplanar essa temática com detalhes para compreender o que e como as organizações podem fazer para estar em conformidade com NR 1, e as demandas psicossociais abordadas por ela.
Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgou um relatório sobre Saúde Mental que apontava para um agravo nos casos de depressão e ansiedade, durante a pandemia os casos aumentaram em 25%. Os números assustam, ainda mais quando o adoecimento mental é relacionado como fator de risco para suicídio e redução da expectativa de vida.
Risco Psicossocial e o conceito de Saúde Mental
Certo, já deu para entender que a atualização da NR 1 faz parte de um movimento de cuidado que ganhou destaque na pandemia. Além disso, o adoecimento mental é um problema de saúde pública, e como todo problema que afeta a sociedade também vai impactar nas empresas. Agora vem a pergunta de milhões: como controlar e monitorar o risco psicossocial?
Controlando e monitorando o risco psicossocial
Para definir um risco é preciso conceituar o que está sendo potencialmente ameaçado. O risco físico associado a uma doença ocupacional pode ser evidenciado pela causalidade: por exemplo, uma escada que esteja molhada e sem a devida sinalização, pode acometer em uma queda e gerar um fratura. E em caso de uma fratura, fica evidente aquilo que foi lesado devido a dor presente no local. O nexo causal entre a escada molhada, a queda, a fratura e a dor fica demonstrado.
Só que o risco psicossocial não é evidente ou causal. Passar por uma situação de estresse emocional, ou violência, não necessariamente vai provocar um quadro de adoecimento mental. E o caminho inverso também é possível, um quadro de agravo psíquico pode se apresentar em uma pessoa que não tem nenhum fator de predisposição ou risco anterior.
Essa dificuldade de estabelecer um elo causal se dá pelo próprio conceito de saúde mental. Segundo a OMS: “saúde mental é um estado de bem-estar mental que permite que as pessoas lidem com estresse da vida, percebam suas habilidades, aprendam bem e trabalhem bem, contribuam para sua comunidade.”. Já na primeira expressão da definição temos um problema: “estado de bem-estar mental”. O que caracteriza esse estado de bem-estar? Será que um indicador pode medir bem-estar para todos?
Dentro do próprio conceito de saúde mental tem um aspecto de subjetividade que é inerente ao ser humano, uma característica que aponta a forma capilar das relações humanas. Em consequência, o acompanhamento de um risco ocupacional que seja psicossocial é realizado de modo capilar, sem um indicador principal que centralize a informação. Aplicar uma escala de satisfação no trabalho é um bom início para mapear possíveis agentes estressores, ter uma política de prevenção e combate ao assédio fortalece a cultura de respeito da empresa, disponibilizar canais de comunicação e denúncia traz segurança aos colaboradores, mas esses itens por isso só não são suficientes para garantir saúde mental.
Pensar em saúde passa por pensar cidadania, um conceito que é alinhado à concepção atribuída pela Constituição de 1988, já que saúde é vista como direito. Nesta linha, saúde mental vai se desdobrar na malha das relações sociais, sendo afetada pelas condições de vida, sociabilidade, trabalho, fisiológicas e relacionais. Ou seja, a prevenção de risco psicossocial envolve elementos que vão além do mapear, sinalizar, prevenir e tratar dentro das instalações laborais.
Responsabilidade Social
Calma, dizer que a prevenção e controle do risco psicossocial é complexo, não é o mesmo que dizer que é impossível. A complexidade se localiza na necessidade de pensar o ser humano como um todo, ao invés de partes que podem ser acometidas por doenças. Ao mesmo tempo, essa característica é uma importante aliada das organizações!
Se o todo pode afetar a saúde mental, isso quer dizer que a prevenção pode ser feita em diferentes frentes, inclusive naquelas que já existem dentro da empresa. Por exemplo, o Relatório de Transparência Salarial, possibilita que a organização identifique disparidades salariais por gênero, e possa tomar medidas cabíveis para corrigir a situação. E vivências de desigualdade e preconceito podem contribuir para quadros de adoecimento mental, ou seja, cumprindo um requisito legal a empresa consegue impactar em outra exigência que não estava sendo tratada diretamente.
Um outro exemplo deste tipo de efeito é a inserção empresarial com a comunidade local. Iniciativas que promovam a participação empresarial junto a sociedade podem contribuir para a imagem positiva da empresa, e com a satisfação dos colaboradores no trabalho. Segundo, LAROS & SOUZA (2010), empresas que conseguem dar continuidade no negócio em geral são aquelas que provam o próprio valor para a sociedade.
E para além de provar o valor a sociedade, se inserindo na comunidade indiretamente a empresa possibilita condições para que o trabalhador possa contribuir com a sociedade, atribuindo maior valor ao próprio trabalho. Neste ponto, retomamos o conceito de saúde mental da OMS, oferecendo situações que levam o trabalhador a perceber-se em ligação com a sociedade, e fomentando a criação de redes de apoio para além do trabalho.
Papel social das empresas no cuidado com a saúde mental
Pensar a saúde mental a partir desta lógica multifatorial abre margem para discussões mais profundas acerca do papel social das empresas e de fatores protetores dentro do trabalho. Gerar empregos, garantir condições dignas de trabalho, facilitar o acesso à educação e a direitos sociais são pontos de contribuição para a sociedade e que podem ser diretamente afetados por ações organizacionais.
Dentro das organizações a gestão eficiente, clara e que respeite o trabalhador se apresenta como um fator crucial para prevenir riscos psicossociais. Pensar em saúde mental exige uma aproximação do trabalhador para avaliar o contexto e entender a melhor forma de intervenção, algo que se torna inviável quando as condições do negócio não vão bem e exigem que a gestão se distancie. Por isso, a conformidade legal também atua como um fator preventivo do risco psicossocial.
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