Mineração

Regulamentação de Pilhas de Rejeitos: Desafios e Perspectivas para a Mineração

A segurança na disposição de rejeitos é um tema central para a indústria mineral, e a regulamentação de pilhas de rejeito na mineração tem sido cada vez mais discutida como parte dos esforços para aprimorar as práticas de gestão e mitigação de riscos.

Recente audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na terça-feira (18/3/25), destacou a necessidade de um marco regulatório para essas estruturas, um debate que envolve tanto preocupações ambientais quanto operacionais para o setor.

Os eventos passados envolvendo barragens de rejeitos levaram a mudanças significativas nas normas de segurança da mineração, com a proibição do alteamento a montante e a necessidade de aprimoramento nos métodos de disposição de rejeitos. Entretanto, o empilhamento de rejeitos em pilhas ainda não conta com um arcabouço regulatório específico. Atualmente, Minas Gerais possui cerca de 750 pilhas de rejeitos e estéreis. Essas estruturas, portanto, fazem parte da operação de diversas mineradoras e, consequentemente, exigem um acompanhamento técnico contínuo.

Os deslizamentos na Pilha Cachoeirinha (Vallourec, 2022) e na mina da Jaguar Mining destacam a importância de revisar critérios de estabilidade e segurança dessas estruturas. A ausência de normativas específicas tem levado a diferentes interpretações sobre as responsabilidades e requisitos para a gestão dessas pilhas de rejeitos na mineração.

Durante a audiência, ambientalistas e comunidades locais exigiram transparência sobre rejeitos da mineração e cobraram fiscalização rigorosa. O setor mineral, por sua vez, tem buscado aprimorar suas práticas, investindo em monitoramento e tecnologias de disposição de rejeitos mais seguras e sustentáveis.

As empresas adotam metodologias de análise de risco e utilizam sistemas de monitoramento geotécnico para garantir a estabilidade dessas estruturas. Órgãos reguladores e a indústria colaboram para implementar normas tecnicamente viáveis e alinhadas às melhores práticas internacionais.

O Projeto de Lei 2.519/24, de autoria da deputada Beatriz Cerqueira (PT), propõe, assim, a regulamentação de aspectos relacionados à segurança e fiscalização das pilhas de rejeitos na mineração. Nesse sentido, entre as obrigações previstas, destacam-se a comunicação de alterações estruturais em até 12 horas, a manutenção de registros periódicos sobre a qualidade ambiental da área de influência e, além disso, a disponibilização pública de dados sobre a estabilidade das pilhas.

A proposta vem sendo debatida no âmbito da Comissão de Meio Ambiente da ALMG, com contribuições de diversos setores. O promotor João Paulo Brant destacou a necessidade de normatizar o tema, enquanto representantes da Agência Nacional de Mineração (ANM) e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) ressaltaram desafios operacionais, como a necessidade de ampliação do quadro técnico para garantir maior capacidade de fiscalização.

As mineradoras reconhecem a importância de regulamentações claras que garantam segurança jurídica e operacional para o setor. A previsibilidade normativa é um fator essencial para o planejamento e a implementação de soluções eficazes na gestão de rejeitos. O desafio é construir uma regulamentação equilibrada, que atenda às demandas de segurança e transparência sem inviabilizar a atividade minerária.

O diálogo entre empresas, governo e sociedade será, portanto, essencial para criar regras práticas que utilizem avanços tecnológicos na gestão sustentável de rejeitos. Além disso, regulamentar pilhas de rejeitos com base em boas práticas pode, consequentemente, melhorar a segurança operacional e a sustentabilidade da mineração no Brasil.

Leia também: PAEBM: A importância do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração

O CAL, software de gestão de requisitos legais da Ius, ajuda sua empresa a identificar e monitorar normas aplicáveis, além de gerenciar conformidade e reduzir riscos. Além disso, com automação, ele simplifica processos, garante transparência em auditorias e facilita a adesão rápida a novas regulamentações. Por fim, permite o acompanhamento de mudanças legislativas e o gerenciamento de evidências, assegurando uma gestão mais eficiente.

Eduardo Assunção

Advogado (OAB/MG 163.463) com ampla experiência em Sistemas de Gestão Integrados e Gestão de Requisitos Legais aplicáveis às organizações. Possui MBA Executivo em Segurança do Trabalho e Meio Ambiente e é pós-graduado em Direito Ambiental e Sustentabilidade e Gestão Integrada em QSMS. Especialista em Gerenciamento de Requisitos Legais nas áreas de Meio Ambiente, Saúde Ocupacional, Segurança do Trabalho, Responsabilidade Social, Regulatório Minerário e Qualidade. Possui formação em Compliance pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e certificação como Lead Auditor & Implementer da LGPD. Além disso, é certificado em ISO 28000 (Gestão da Segurança da Cadeia de Fornecimento) pela Det Norske Veritas (DNV), Auditor Interno em Responsabilidade Social e Auditor Interno em Gestão de Energia ISO 50001. Membro da Comissão de Direito Ambiental da OAB/MG, atua como Consultor Jurídico Sênior na Ius, com foco na elaboração de pareceres jurídicos, due diligence, treinamentos e auditorias de conformidade legal em empreendimentos de diversos setores. Sua atuação busca garantir a aderência das organizações aos requisitos legais aplicáveis, promovendo a mitigação de riscos, redução de passivos ambientais e trabalhistas, manutenção da reputação corporativa e aproveitamento de oportunidades frente às inovações regulatórias. Com forte expertise em Normas NBR ISO 14001, ISO 45001, ISO 9001, SA8000 e práticas ESG, presta consultoria e auditoria para grandes empresas nos setores de Mineração e Metalurgia, Indústria e Energia, Infraestrutura e Logística, Automotivo, Alimentos e Bebidas, e Saúde, entre outros.

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